Bem, prezados fãs ferroviários, voltemos a especialidade desse
blog e de seu proprietário: percorrer o interior do Brasil em busca de estações e paradas perdidas. Dessa vez, no município de
Volta Grande, em Minas Gerais. Grande no nome e no fato de ser a terra natal do cineasta
Humberto Mauro, porém minúsculo em tamanho. É a típica cidadezinha do interior, pacata, com igreja, coreto, idosos batendo papo na praça e gente muito, muito curiosa que presta toda a atenção a quem vem de fora. Foi o meu caso, inclusive. Enquanto fazia fotos do lugar, fui abordado por um casal querendo saber o motivo de eu estar ali fotografando. É que a cidade vive clima de eleições pra prefeito e vereador, com carros de som pra lá e pra cá, decorados com adesivos de candidatos, e eles, envolvidos na campanha eleitoral, estavam preocupados pois achavam que eu era um fiscal do TRE.
(Clique nas imagens para ampliar)
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Na praça central da tranquila Volta Grande, uma tabuleta anuncia o circo. |
De acordo com o guia
Ferrovias do Brasil, editado pelo IBGE em 1956, a estação ferroviária de Volta Grande fica entre duas paradas que não constavam da página
Estações Ferroviárias. A primeira chamada
Lambari e a segunda
Pântano. Faziam parte do trecho entre Porto das Caixas (RJ) e Manhuaçu (MG), pertencente à
Estrada de Ferro Leopoldina.
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A estação de Volta Grande serve atualmente aos funcionários da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) . |
Cheguei primeiro a
Lambari, numa caminhada matinal de uns 5km. No guia do IBGE a parada consta como estando no km 273.0, sendo que sua localização real fica um pouco além do km 274, ao lado da entrada de uma pequena propriedade rural. Foram antigos moradores que me indicaram o local exato. Desta parada nada mais restou além de ruínas.
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Parada Lambari, zona rural de Volta Grande, MG. |
Depois de almoçar, peguei um ônibus rumo ao povoado de São Geraldo, próximo ao km 37 da rodovia MG-393, na divisa entre Volta Grande e Além Paraíba. Foi o Sr. José Monção que muito gentilmente me mostrou o lugar. Me contava que no passado, quando os trens de passageiros ainda circulavam por lá, ele costumava amarrar um lírio vermelho no poste à beira da linha como um sinal ao maquinista de que haviam passageiros para embarcar.
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Sem a ajuda do Sr. José Monção seria praticamente impossível encontrar a parada Pântano, cujos resquícios se encontram encobertos pela vegetação. |
A parada chamava-se Pântano em função da fazenda do mesmo nome, que não mais existe, e em cujo terreno se encontra a capela de Nossa Senhora do Rosário do Pântano, erguida pelos antigos proprietários entre 1876 e 1879, e que se encontra abandonada, depredada, à espera do desabamento. Situação semelhante eu encontrei em 2009 quando investigava as ruínas da estação Casal em Vassouras (Veja
AQUI).
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Reza a lenda de que o lugar, onde havia um cemitério de ex-escravos, é mal-assombrado. Moradores dizem ouvir à noite animadas conversas vindo de dentro da capela vazia. |
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Nos fundos de uma residência próxima, encontrei esta lápide, retirada do terreno da capela e que indica a existência de um cemitério. Nela consta a inscrição: "Uma lágrima sobre as sepulturas dos ex-escravos da fazenda do Pântano, 1889". |
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O altar da capela. Falta pouco para tudo isso desaparecer de vez. |
Consta que a capela é mal-assombrada. Moradores dizem ouvir vozes em seu interior à noite. Quanto a isso, nada posso dizer. Estive lá durante o dia, não encontrei fantasmas e sim um patrimônio saqueado, destruído pela ação do tempo, de vândalos e de um país que pouco se importa com a preservação de sua história.
4 comentários:
A presença de uma igreja desse porte mostra que esse local já teve alguma importância como é que pode ter acabado desse jeito?
Um registro importante desses como um cemitério de escravos libertos largado...
Impressionante e trágico !
Como uma beleza de construção dessa perece dessa maneira ?!
Cadê o IPHAN nessas horas ?
Antes de finalizar, parabéns pela matéria, Latuff ! Me senti no local, e fiquei morrendo de curiosidade ... será o local realmente assombrado ? Vale uma visita noturna aí, hein ? hehehehe
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Trilhos do Rio
Eduardio P.Moreira
"Dado DJ"
Quanta beleza e riquesa cultural jogada fora... cadê a memória deste país...linda reportagem e registro...Valeu!!
É triste ver tanto trabalho e beleza desaparecendo aos poucos, gastos pelo descaso.
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