Esta fotografia, publicada pelo IBGE em 1958 na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, mostra um trecho da ferrovia de 33km que liga Niterói à Visconde de Itaboraí (RJ), no bairro de Neves, em São Gonçalo. Vê-se a maria-fumaça ao longe.
Passado meio século, estive na manhã de hoje no mesmo lugar onde a foto foi tirada, pra ver o que havia mudado. O prédio em primeiro plano, onde antes era uma padaria (notar a chaminé no canto superior esquerdo), sofreu muitas alterações em sua fachada e hoje abriga uma farmácia (a chaminé foi demolida). A linha ainda existe, mas está coberta de mato.
Percorri toda a linha a bordo do trem de passageiros que fazia esse ramal, isso quando ele ainda funcionava em 2004. O vídeo dessa viagem pode ser visto aqui:
Mas o que seria apenas um ensaio fotográfico do tipo "antes e depois", acabou se tornando o retrato do abandono de uma das únicas estradas de ferro estatais do Brasil.
Enquanto tirava fotos, me surpreendi com a aproximação vagarosa de um auto-de-linha equipado com um guindaste Munck. Eram operários da Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística (CENTRAL, antiga Flumitrens) inspecionando o trecho. Não quis incomodá-los, e por isso fiquei acompanhando seu trabalho a uma certa distância. Como o auto-de-linha seguia lentamente (calculei uns 10km), pude segui-los por um bom trecho, a pé e de taxi. O trem de passageiros que por alí costumava trafegar, há tempos anda parado. Mas mesmo assim, estes trabalhadores tentam manter a duras penas a integridade da linha férrea. Vejam os problemas cotidianos que estes valorosos ferroviários tem de enfrentar.
Munidos de pás, enxadas e forcados, os operários da via permanente agem como verdadeiros garis, retirando lixo jogado nos trilhos por moradores das redondezas.
Começava a chover e o auto-de-linha teve de estacionar (parou diante de uma das estações do trecho, Porto da Madama). A equipe suspendeu a inspeção momentaneamente, já que com chuva a precariedade da via é ainda maior.
Aqui os ferroviários removem galhos cortados e deliberadamente abandonados na linha.
Esforço para retirar a lama trazida pelas chuvas que encobre os trilhos.
Muitas vezes ví os operários seguindo à frente do auto-de-linha, como batedores, afim de desobstruir a via. Ao fundo, grafitada, a estação de São Gonçalo.
Outro obstáculo constante. Veículos são estacionados muito próximo aos trilhos, o que por vezes obriga os operários a afastá-los com a força dos braços.
Na altura do bairro Tamoio, em São Gonçalo, avistei o auto-de-linha. Parado. O veículo ferroviário não aguentou essa verdadeira via crucis e acabou pifando.
Diante do desleixo do poder público para com nossas ferrovias, comprovado nestas imagens, soa como cinismo os planos governamentais de se construir trens-bala...
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
sábado, 22 de novembro de 2008
Ironia
O visitante desse blog pode imaginar que essa foto é de uma estação ferroviária reformada e convertida numa loja, certo?
(Clique na imagem para ampliar)
Da verdadeira estação de Itaipava, em Petrópolis (RJ), nada mais resta, sequer vestígios (confira na expedição recente que fiz à Petrópolis: http://ferroviasdobrasil.blogspot.com/2008/10/expedio-relmpago.html). Essa foto é na verdade de um dos shoppings daquela localidade, cujas linhas arquitetônicas simulam uma estação.
No mesmo local existe também um restaurante cuja marca registrada é ter em seu interior um vagão de madeira original. O garçom me informou que a composição fôra comprada em Juiz de Fora (MG).
E pelo visto, aquele vagão era da primeira classe, porque os preços do cardápio eram bem salgados...
(Clique na imagem para ampliar)
(Clique na imagem para ampliar)
(Clique na imagem para ampliar)
(Clique na imagem para ampliar)
(Clique na imagem para ampliar)
Da verdadeira estação de Itaipava, em Petrópolis (RJ), nada mais resta, sequer vestígios (confira na expedição recente que fiz à Petrópolis: http://ferroviasdobrasil.blogspot.com/2008/10/expedio-relmpago.html). Essa foto é na verdade de um dos shoppings daquela localidade, cujas linhas arquitetônicas simulam uma estação.
No mesmo local existe também um restaurante cuja marca registrada é ter em seu interior um vagão de madeira original. O garçom me informou que a composição fôra comprada em Juiz de Fora (MG).
E pelo visto, aquele vagão era da primeira classe, porque os preços do cardápio eram bem salgados...
(Clique na imagem para ampliar)
(Clique na imagem para ampliar)
(Clique na imagem para ampliar)
(Clique na imagem para ampliar)
sábado, 15 de novembro de 2008
Expedição relâmpago: Rocha Sobrinho até Aíva (RJ)
Na manhã e tarde chuvosas dessa sexta-feira, dia 14 de novembro, percorri a pé os 13 km do trecho da Linha Auxiliar da extinta Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB) entre Rocha Sobrinho (Mesquita) e Aíva (Nova Iguaçu) na Baixada Fluminense (RJ), afim de verificar quais pontos de parada ainda existiam. De acordo com o guia Ferrovias do Brasil, editado pelo IBGE em 1956, eram estes:
- Rocha Sobrinho (estação)
- Jacutinga (parada)
- Prata (parada)
- Andrade de Araújo (estação)
- Caioabá (parada)
- Ambaí (parada)
- Engenheiro Rocha Freire (estação)
- Aíva (parada)
Eu confesso que as incursões pela Baixada sempre me deixam um tanto deprimido. A região tem sido ao longo dos anos expoliada por verdadeiros feudos de políticos safados que tem alí uma fonte inesgotável de votos. Basta uma volta pelos bairros mais afastados para comprovar as condições de vida daquela população, a grande maioria de gente humilde, que ao sair de casa em dias de chuva tem de usar sacos plásticos nos pés pra não se sujar de lama. Sem falar nos temporais que muitas vezes levam a lama pra DENTRO das casas. Ruas sem calçamento, esgoto a céu aberto, lixo, são elementos comuns daquela paisagem, infelizmente.
(Clique na imagem para ampliar)
Quando estive na estação de Rocha Sobrinho em 2003, fui informado pelos funcionários da concessionária que opera o trecho de que dalí até Japeri tudo fora demolido. Eles não estavam de todo errados. Alguma coisa aqui e alí ainda pode ser vista, mas não sem ajuda de moradores das redondezas, especialmente os mais antigos, como é o caso do Sr. Tércio, que trabalhou na ferrovia de 1957 até 1988, e que encontrei no bairro Prata, em Nova Iguaçu. Ele me disse que quando no passado houve alí obras de expansão da bitola, muita coisa foi destruída. São dele as seguintes informações.
JACUTINGA - No local indicado pelo Sr. Tércio, onde antes ficava a parada hoje nem sequer vestígios existem.
PRATA - Demolida, sobraram apenas casas de turma, atualmente servindo de residências e um pequeno salão de cabeleireiro.
(Clique na imagem para ampliar)
ANDRADE DE ARAÚJO - Pelo que me disse o velho ferroviário, a estação era feita de madeira, pinho de riga. Desapareceu. Restou apenas um posto telegráfico, que serve de moradia.
(Clique na imagem para ampliar)
Daí pra frente, tive que me virar sozinho. Em Caioabá um morador me levou até o local onde seria a localização aproximada da parada. Sem vestígios.
Em Ambaí encontrei uma casa, que de acordo com moradores servia de guarita. Disseram haver alí um desvio que seguia rumo ao bairro Miguel Couto, em Nova Iguaçu. A construção ficou por muito tempo abandonada. Atualmente é residência de uma família.
(Clique na imagem para ampliar)
Encontrei também um poste metálico semelhante ao que ví na estação de Triagem, subúrbio carioca.
(Clique na imagem para ampliar)
No bairro Santa Rita, um idoso levando uma gaiola de passarinho na mão, me conduziu até o local onde seríam as ruínas da estação Engenheiro Rocha Freire.
(Clique na imagem para ampliar)
(Clique na imagem para ampliar)
Em Aíva, próximo da linha e diante de uma estação de energia da Light, encontrei duas estruturas de concreto, uma próxima da outra (vistas aqui numa imagem de satélite), que poderíam sugerir uma plataforma. Mas se olharmos mais de perto veremos itens estranhos a uma parada ferroviária como por exemplo argolas de metal presas em sua superfície. Requer uma avaliação mais detida.
(Clique na imagem para ampliar)
- Rocha Sobrinho (estação)
- Jacutinga (parada)
- Prata (parada)
- Andrade de Araújo (estação)
- Caioabá (parada)
- Ambaí (parada)
- Engenheiro Rocha Freire (estação)
- Aíva (parada)
Eu confesso que as incursões pela Baixada sempre me deixam um tanto deprimido. A região tem sido ao longo dos anos expoliada por verdadeiros feudos de políticos safados que tem alí uma fonte inesgotável de votos. Basta uma volta pelos bairros mais afastados para comprovar as condições de vida daquela população, a grande maioria de gente humilde, que ao sair de casa em dias de chuva tem de usar sacos plásticos nos pés pra não se sujar de lama. Sem falar nos temporais que muitas vezes levam a lama pra DENTRO das casas. Ruas sem calçamento, esgoto a céu aberto, lixo, são elementos comuns daquela paisagem, infelizmente.
(Clique na imagem para ampliar)
Quando estive na estação de Rocha Sobrinho em 2003, fui informado pelos funcionários da concessionária que opera o trecho de que dalí até Japeri tudo fora demolido. Eles não estavam de todo errados. Alguma coisa aqui e alí ainda pode ser vista, mas não sem ajuda de moradores das redondezas, especialmente os mais antigos, como é o caso do Sr. Tércio, que trabalhou na ferrovia de 1957 até 1988, e que encontrei no bairro Prata, em Nova Iguaçu. Ele me disse que quando no passado houve alí obras de expansão da bitola, muita coisa foi destruída. São dele as seguintes informações.
JACUTINGA - No local indicado pelo Sr. Tércio, onde antes ficava a parada hoje nem sequer vestígios existem.
PRATA - Demolida, sobraram apenas casas de turma, atualmente servindo de residências e um pequeno salão de cabeleireiro.
(Clique na imagem para ampliar)
ANDRADE DE ARAÚJO - Pelo que me disse o velho ferroviário, a estação era feita de madeira, pinho de riga. Desapareceu. Restou apenas um posto telegráfico, que serve de moradia.
(Clique na imagem para ampliar)
Daí pra frente, tive que me virar sozinho. Em Caioabá um morador me levou até o local onde seria a localização aproximada da parada. Sem vestígios.
Em Ambaí encontrei uma casa, que de acordo com moradores servia de guarita. Disseram haver alí um desvio que seguia rumo ao bairro Miguel Couto, em Nova Iguaçu. A construção ficou por muito tempo abandonada. Atualmente é residência de uma família.
(Clique na imagem para ampliar)
Encontrei também um poste metálico semelhante ao que ví na estação de Triagem, subúrbio carioca.
(Clique na imagem para ampliar)
No bairro Santa Rita, um idoso levando uma gaiola de passarinho na mão, me conduziu até o local onde seríam as ruínas da estação Engenheiro Rocha Freire.
(Clique na imagem para ampliar)
(Clique na imagem para ampliar)
Em Aíva, próximo da linha e diante de uma estação de energia da Light, encontrei duas estruturas de concreto, uma próxima da outra (vistas aqui numa imagem de satélite), que poderíam sugerir uma plataforma. Mas se olharmos mais de perto veremos itens estranhos a uma parada ferroviária como por exemplo argolas de metal presas em sua superfície. Requer uma avaliação mais detida.
(Clique na imagem para ampliar)
sábado, 8 de novembro de 2008
Estação de Jataizinho, PR (parte 2)
Diante da estação de Jataizinho, município da grande Londrina, encontrei esse vagão cujas laterais havia a inscrição "Equipe de correção geométrica". Reparem na antena parabólica. Seria um vagão hi-tech?
(Clique na imagem para ampliar)
Que nada, de acordo com o Sr. José Aparecido, ex-telegrafista, morador na vizinhança, o vagão serve de dormitório para funcionários da via permanente. E a parabólica? É pra que os operários possam assistir TV. Nem tudo é o que parece ser.
(Clique na imagem para ampliar)
A marca de fabricação indica que aquela composição veio de longe, e que naquele mês completava 37 anos.
(Clique na imagem para ampliar)
E aqui está o Sr. José Aparecido. Figuraça! Simpático, me disse que a estação de Jataizinho foi inaugurada em 5 de maio de 1932, contou sobre as cheias do rio Tibagi, mostrou fotos. Entre elas, uma da estação ainda funcionando para passageiros, tirada por ele em junho de 1983.
(Clique na imagem para ampliar)
(Clique na imagem para ampliar)
Mais adiante, encontrei operários trabalhando na fixação de trilhos. Nunca deixo de registrar o trabalho destes homens. Esforço físico, roupas sujas, suor, cansaço. Se compararmos esta imagem feita em pleno século 21 com aquelas feitas no final do século 19, veremos que a atividade dos operários da via permamente não mudou muito em todo esse tempo.
(Clique na imagem para ampliar)
(Clique na imagem para ampliar)
Que nada, de acordo com o Sr. José Aparecido, ex-telegrafista, morador na vizinhança, o vagão serve de dormitório para funcionários da via permanente. E a parabólica? É pra que os operários possam assistir TV. Nem tudo é o que parece ser.
(Clique na imagem para ampliar)
A marca de fabricação indica que aquela composição veio de longe, e que naquele mês completava 37 anos.
(Clique na imagem para ampliar)
E aqui está o Sr. José Aparecido. Figuraça! Simpático, me disse que a estação de Jataizinho foi inaugurada em 5 de maio de 1932, contou sobre as cheias do rio Tibagi, mostrou fotos. Entre elas, uma da estação ainda funcionando para passageiros, tirada por ele em junho de 1983.
(Clique na imagem para ampliar)
(Clique na imagem para ampliar)
Mais adiante, encontrei operários trabalhando na fixação de trilhos. Nunca deixo de registrar o trabalho destes homens. Esforço físico, roupas sujas, suor, cansaço. Se compararmos esta imagem feita em pleno século 21 com aquelas feitas no final do século 19, veremos que a atividade dos operários da via permamente não mudou muito em todo esse tempo.
(Clique na imagem para ampliar)
Assinar:
Postagens (Atom)