Eu sou Carlos Latuff, cartunista e fã ferroviário. O propósito desta página é compartilhar com os internautas uma seleção das melhores imagens produzidas durante minhas expedições ferroviárias. Os registros aqui publicados podem ser reproduzidos pelos interessados, com tanto que para fins não-comerciais de informação, citando a fonte (por gentileza). Sou também colaborador do sítio www.estacoesferroviarias.com.br, de autoria do pesquisador Ralph Mennucci Giesbrecht, a página mais completa da Internet sobre estações ferroviárias brasileiras.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Ferrovia: antes e depois

Esta fotografia, publicada pelo IBGE em 1958 na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, mostra um trecho da ferrovia de 33km que liga Niterói à Visconde de Itaboraí (RJ), no bairro de Neves, em São Gonçalo. Vê-se a maria-fumaça ao longe.



Passado meio século, estive na manhã de hoje no mesmo lugar onde a foto foi tirada, pra ver o que havia mudado. O prédio em primeiro plano, onde antes era uma padaria (notar a chaminé no canto superior esquerdo), sofreu muitas alterações em sua fachada e hoje abriga uma farmácia (a chaminé foi demolida). A linha ainda existe, mas está coberta de mato.



Percorri toda a linha a bordo do trem de passageiros que fazia esse ramal, isso quando ele ainda funcionava em 2004. O vídeo dessa viagem pode ser visto aqui:



Mas o que seria apenas um ensaio fotográfico do tipo "antes e depois", acabou se tornando o retrato do abandono de uma das únicas estradas de ferro estatais do Brasil.

Enquanto tirava fotos, me surpreendi com a aproximação vagarosa de um auto-de-linha equipado com um guindaste Munck. Eram operários da Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística (CENTRAL, antiga Flumitrens) inspecionando o trecho. Não quis incomodá-los, e por isso fiquei acompanhando seu trabalho a uma certa distância. Como o auto-de-linha seguia lentamente (calculei uns 10km), pude segui-los por um bom trecho, a pé e de taxi. O trem de passageiros que por alí costumava trafegar, há tempos anda parado. Mas mesmo assim, estes trabalhadores tentam manter a duras penas a integridade da linha férrea. Vejam os problemas cotidianos que estes valorosos ferroviários tem de enfrentar.


Munidos de pás, enxadas e forcados, os operários da via permanente agem como verdadeiros garis, retirando lixo jogado nos trilhos por moradores das redondezas.


Começava a chover e o auto-de-linha teve de estacionar (parou diante de uma das estações do trecho, Porto da Madama). A equipe suspendeu a inspeção momentaneamente, já que com chuva a precariedade da via é ainda maior.


Aqui os ferroviários removem galhos cortados e deliberadamente abandonados na linha.


Esforço para retirar a lama trazida pelas chuvas que encobre os trilhos.


Muitas vezes ví os operários seguindo à frente do auto-de-linha, como batedores, afim de desobstruir a via. Ao fundo, grafitada, a estação de São Gonçalo.


Outro obstáculo constante. Veículos são estacionados muito próximo aos trilhos, o que por vezes obriga os operários a afastá-los com a força dos braços.


Na altura do bairro Tamoio, em São Gonçalo, avistei o auto-de-linha. Parado. O veículo ferroviário não aguentou essa verdadeira via crucis e acabou pifando.

Diante do desleixo do poder público para com nossas ferrovias, comprovado nestas imagens, soa como cinismo os planos governamentais de se construir trens-bala...

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