Eu sou Carlos Latuff, cartunista e fã ferroviário. O propósito desta página é compartilhar com os internautas uma seleção das melhores imagens produzidas durante minhas expedições ferroviárias. Os registros aqui publicados podem ser reproduzidos pelos interessados, com tanto que para fins não-comerciais de informação, citando a fonte (por gentileza). Sou também colaborador do sítio www.estacoesferroviarias.com.br, de autoria do pesquisador Ralph Mennucci Giesbrecht, a página mais completa da Internet sobre estações ferroviárias brasileiras.

domingo, 26 de abril de 2009

Memória Ferroviária: Seu Jorge Luiz, Arcozelo (RJ)

Passado o verdadeiro frenesi da cobertura da paralisação dos maquinistas da Supervia (parabéns aos ferroviários!), o blog e seu blogueiro tiveram seu merecido descanso. Retomando agora as atualizações, voltando ao ritmo interiorano, convido voces a acompaharem seu Jorge Luiz, filho do ex-ferroviário André Francisco (cuja participação neste blog pode ser vista AQUI), pelos trilhos esquecidos do extinto ramal Alfredo Maia-Três Rios, em Arcozelo, zona rural do Estado do Rio de Janeiro.



quinta-feira, 16 de abril de 2009

Terminou a greve na Supervia!

Bem, senhoras e senhores, na tarde de hoje, os ferroviários em assembléia decidiram pelo fim da greve que paralisou os trens da Supervia desde a segunda-feira. Ficou acordado de que 7 maquinistas serão readmitidos imediatamente, e que as 4 demissões restantes serão avaliadas. Ficou acertado também a criação de uma comissão formada por representantes do Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil, Supervia, Ministério Público e Secretaria Estadual de Transportes, afim de encaminhar as diversas denúncias feitas pelo Sindicato quanto a falta de conservação dos trens e da via férrea.

Uma vitória dos ferroviários foi sem dúvida o fato de terem colocado a ferrovia na pauta do dia. Ficou evidenciado o descaso da Supervia para com a população, nem mesmo a imprensa burguesa conseguiu aliviar a barra da companhia. Graças a paralisação, a opinião pública ficou sabendo de algo que os passageiros dos trens de subúrbio no Rio já conhecem de longa data: a truculência dos seguranças da Supervia.

A cena de agentes açoitando passageiros com cordames de nylon correu o país, e tornou-se o símbolo do desrespeito da Supervia para com a população, desrespeito esse que tem sido denunciado cotidianamente pelo Sindicato faz tempo. E já que numa sociedade imagética como a nossa é preciso ver pra crer, então quem tem olhos que veja. O sindicato cumpriu seu papel, mostrou. Resta saber se o poder público, que viu, cumprirá o seu.

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Quanto a mim, espero ter colaborado com minhas imagens e depoimentos. Não sou funcionário do Sindicato e nem fui contratado para cobrir a paralisação. Fiz isso espontaneamente e sem ganhar um tostão, porque como fã ferroviário que já correu estas linhas de subúrbio de cima a baixo, sei perfeitamente que as demandas por mais segurança são absolutamente justas e legítimas.

Concluo esta postagem com depoimentos de passageiros da Supervia que colhi numa das entradas da estação da Central do Brasil, lá pelo meio-dia.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Maquinistas da Supervia: terceiro dia de paralisação

Dia chuvoso, e já que estou em casa, resolvi acompanhar um pouco da cobertura dos noticiários de TV sobre a greve dos ferroviários. Em entrevista a um jornal local, ao ser indagado sobre imagens exibidas na TV de seguranças esmurrando e chicoteando(!) passageiros em composições lotadas, o porta-voz da Supervia cinicamente desconversou e pôs a culpa por essa situação (adivinhem) nos ferroviários. Cabe dizer que estes incidentes não são resultado da paralisação dos trens. A superlotação e a truculência da segurança da Supervia são fatos bem conhecidos dos passageiros, inclusive a violência contra vendedores ambulantes, que costumeiramente são agredidos pelos agentes. Interessante que a pessoa destacada pela Supervia para falar pela empresa não é um ferroviário, um técnico ou mesmo assessor de imprensa. Trata-se de José Carlos Leitão, diretor de MARKETING da Supervia. Nada mais justo. Diante das diversas denúncias de ferroviários, da insatisfação patente de passageiros e mesmo matérias na mídia revelando os péssimos serviços oferecidos à população pela concessionária, resta apenas apelar para um marqueteiro na tentativa de vender a imagem da Supervia como empresa responsável e eficiente. Como diz o antigo provérbio: "Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento". Nem mesmo a melhor propaganda tem disfarçado o fedor desse pão estragado...

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Mais uma irregularidade da Supervia registrada no dia 7 de abril, portanto ANTES da greve. Homens são flagrados no carro destinado as mulheres, em descumprimento a lei estadual 4.733/06, que reserva vagões EXCLUSIVOS para as mulheres nos trens e no metrô do Rio de Janeiro, entre 6h e 9h e de 17h às 20h. Essa foto foi tirada as 7h10m na estação de Saracuruna, em Caxias. No início do mês, a 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça condenou a Supervia a pagar 10 mil reais de indenização por danos morais a uma mulher vítima de assédio sexual, ocorrido JUSTAMENTE num destes carros.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Maquinistas em greve protestam diante da ALERJ

Hoje, em frente ao imponente edifício da Central do Brasil, lá pelas 10h da manhã, me encontrei com cerca de 50 maquinistas que cruzaram os braços por melhores condições de trabalho. Quanto mais converso com eles, mais fico sabendo dos absurdos que ocorrem nos bastidores da Supervia. Dois desses maquinistas, cujos nomes vou omitir para que não sofram represálias da empresa, me informaram de que o sistema de alerta dos TUE (Trem Unidade Elétrico) tem sido alterado nas oficinas, para que possíveis defeitos não apareçam no painel de controle da locomotiva. Tudo para que os trens continuem rodando, mesmo que de maneira precária, já que trem parado é prejuízo para a Supervia. Além disso, me contaram que os maquinistas tem sido punidos pelos trens lotados andarem de portas abertas, mesmo sendo responsabilidade dos seguranças nas estações impedir que as composições trafeguem dessa maneira. São também frequentes os problemas com a sinalização, denunciam os maquinistas.

Os ferroviários seguiram em passeata até a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, e preocupados com possíveis transtornos ao trânsito, caminharam pela calçada, soprando apitos durante todo o percurso. A essa altura, o grupo já contava com mais ou menos 100 pessoas.

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Ao chegarem nas escadarias da ALERJ, registrei esse momento genial, em que os maquinistas respondem às alegações da Supervia de que a paralisação é meramente por aumento de salário. Em alto e bom som ao repórter da TV Globo...



Depois de um longo chá de cadeira, uma comissão foi recebida pelo presidente da ALERJ, Jorge Picciani. Os ferroviários solicitaram que seja realizada uma audiência pública com a participação da Supervia, Agetransp (agência reguladora) e Secretaria Estadual de Transportes.

Em tempo: Ontem, o Secretário Estadual de Transportes, Júlio Lopes, em declaração a um notório portal de notícias, declarou que a Supervia tem "índices europeus na questão de segurança operacional".

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Paralisação de trens da Supervia: imagens da manhã de hoje

Às 6h da manhã desta segunda-feira, encontrei a estação de Deodoro fechada e com uma viatura do batalhão de choque em seu interior. Por volta das 7h as portas já estavam abertas. Boa parte dos maquinistas aderiu ao movimento (os ramais de Saracuruna e Belford Roxo pararam por completo), porém alguns foram ameaçados de demissão pela Supervia e operaram precariamente as composições, que chegavam superlotadas de Santa Cruz e da Baixada Fluminense rumo à Central do Brasil. Seguranças não impediram que os trens seguissem de portas abertas, contrariando o artigo 44, Seção II, do Decreto nº 26.516, de 30 de dezembro de 2005, que diz:

O trem em operação comercial não poderá circular, com usuário, tendo alguma de suas portas abertas.

No entanto, o guardas impediram, isso sim, o acesso da imprensa as plataformas. Mesmo assim consegui fazer as imagens abaixo.

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Das 8 portas mostradas nessa foto, apenas 2 estavam fechadas.


Passageiros correm risco de vida pendurados nas portas.


Passageira passa mal e é atendida pelos bombeiros.

Os ferroviarios organizam para amanhã, às 10h, uma passeata saíndo da Central do Brasil rumo à Assembléia Legislativa do RJ.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Golpe baixo da Supervia

Acabo de receber a informação por intermédio de um ferroviário (cujo nome manterei em sigilo) de que na tarde de ontem a Supervia demitiu 10 maquinistas, como forma de retaliação pela paralisação prevista para a madrugada de domingo para segunda-feira. Em razão disso, a paralisação que deveria ser por 24h poderá se extender por tempo indeterminado.

A privatização dos trens de passageiros no Estado do Rio

O diretor jurídico do Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil, Alexandre Bruno, comenta sobre a privatização dos trens de passageiros no Estado do Rio de Janeiro.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O motivo da paralisação: segurança!

A razão principal da paralisação de 24h dos trens da Central, que vai acontecer na madrugada de domingo para segunda-feira, não é por melhores salários e sim por melhores condições de trabalho. Acidentes tem sido frequentes, e dois deles inclusive pude acompanhar de perto.

No dia 25 de abril de 2008, uma composição vazia atingiu a lateral de um trem com passageiros que seguia para Japeri, a 500 metros da estação da Central do Brasil. A batida deixou pelo menos 8 feridos. Seguranças da Supervia tentaram (em vão) impedir que eu fizesse imagens no local. Assista ao vídeo que produzi na ocasião.



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Já no dia 30 de agosto de 2007, no final de uma tarde nublada, assisti pela TV a notícia de um grave acidente envolvendo dois trens de passageiros no bairro de Austin, em Nova Iguaçu (RJ). Não pensei duas vezes, peguei um taxi (tive de desembolsar 150 reais nessa corrida) e parti para o local. Chegando lá, segui pela rua que dava acesso a via férrea, completamente tomada de ambulâncias, viaturas dos bombeiros e da polícia militar. Já era noite. O acesso à linha se dava por um buraco aberto no muro da ferrovia. A entrada era controlada por policiais, mas consegui driblar a vigilância, e alcancei os trilhos. De cara, me deparei de um dos carros, que de tão retorcido, parecia ter sido feito de papel alumínio.

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Uma composição com mais ou menos 800 passageiros trafegava a 80 Km/h quando bateu num trem vazio que manobrava de ré num entroncamento. Neste acidente, mais de 100 pessoas ficaram feridas e 8 morreram. Eu ví os cadáveres, colocados lado a lado diante de um dos trens destruídos. Presenciei então uma cena que levarei para a sepultura comigo. Com a chegada do bispo de Nova Iguaçu, Dom Luciano Bergamin, bombeiros, paramédicos e policiais fizeram um círculo ao redor dos corpos, e de mãos dadas rezaram o Pai Nosso. Fiz diversas imagens desse momento, mas em respeito as vítimas, apaguei todas as fotos de minha câmera.

Eis seus nomes.

Érica da Silva, 25 anos
Heleno Paiva da Costa, 21 anos
Jerônimo Pereira dos Santos, 30 anos
Jessé da Silva Loroza, 70 anos
José Marcelino da Silva, 65 anos
Renan Pedrosa Moreira, 18 anos
Rosana Teófilo do Nascimento, 46 anos
Severino Inácio da Silva, 47 anos

No dia seguinte à tragédia, voltei pela manhã a Austin para registrar o trabalho de retirada das composições destroçadas. Fui impedido de chegar aos trilhos por PMs e seguranças da Supervia. No entanto, consegui fazer imagens do alto da lage de uma das residências próximas, inclusive colhendo depoimentos de moradores. Assista ao vídeo que produzi na ocasião.



(Clique na imagem para ampliar)


Com o passar dos dias, deu-se a conhecer pela imprensa detalhes das vidas interrompidas, como a de Érica da Silva, que voltava de Nova Iguaçu, onde fora comprar um nebulizador para seu filho Eric, de dois anos. Ou a do estudante Renan Pedrosa Moreira, que havia gravado seu primeiro CD e morreu dois dias antes de se apresentar com seu grupo de funk.

A estratégia da Supervia é sempre a mesma. Isenta-se de responsabilidade e culpabiliza os ferroviários. Mas o verdadeiro motivo por estes acidentes é a negligência da empresa para com a manutenção da malha ferroviária e das composições. Embarcar num trem está cada vez mais perigoso no Rio de Janeiro. A paralisação nesse domingo será, basicamente, pela preservação das vidas de ferroviários e passageiros.

ATENÇÃO! A CENTRAL VAI PARAR!

Em assembléia realizada na noite de ontem, os ferroviários decidiram pela paralisação por 24 horas dos trens da Supervia, a partir da meia-noite deste domingo, em protesto pelas péssimas condições de trabalho e os constantes acidentes, decorrentes da falta de investimentos. O Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil encaminhará às 10 horas da manhã de hoje à Supervia o comunicado oficial da paralisação, obedencendo o prazo legal de 72 horas. Eis as reivindicações dos ferroviários:
I - Reintegração imediata dos maquinistas Marivaldo Santos Moreira, Silvio César e Luiz Cássio, que foram demitidos arbitrariamente.
II - A) Fim da coação sobre os maquinistas para saírem com os trens de portas abertas, avariados e com pendências de manutenção, pondo em risco a segurança de maquinistas e usuários.
B) Devolução ao maquinista Cristian Martins das horas que trabalhou e que foram retiradas, por não ter concordado em sair com o trem de portas abertas.
III - Melhoria nas condições de trabalho, na desumana escala de serviço e a volta da folga de sábado, que foi retirada.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Supervia: com a palavra, os ferroviários

Estive na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona da Central do Brasil na manhã desta terça-feira, e entrevistei seu presidente, Valmir de Lemos, o "Índio", a respeito da mobilização dos ferroviários da Supervia por melhores condições de trabalho.



Assim que desliguei a câmera, nos chegou a notícia de que um acidente acabara de acontecer na Central do Brasil. Seguimos direto para lá. Ao chegar, nos deparamos com ambulâncias dos bombeiros na gare da estação. Um trem bateu na traseira de outro ao se aproximar da plataforma. A composição da frente se chocou contra o parachoque de final de linha. A área foi isolada com cordas e guarnecida por policiais militares e muitos seguranças da Supervia. Um deles tentou impedir que eu fizesse imagens.

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Recebi da assessoria de comunicação da Supervia duas notas. A primeira, em papel sem timbre, dizia o seguinte:

A Supervia informa que hoje, dia 7 de abril, às 9h52min, o primeiro vagão do trem prefixo UH526 que fazia o percurso Gramacho-Central do Brasil, quando estacionava na linha L, da plataforma 12, da estação Central do Brasil, encostou, a baixa velocidade, no último vagão de um trem vazio que estava parado na mesma linha. Os passageiros desembarcaram normalmente na plataforma. Neste momento, os trens em todos os ramais estão circulando normalmente.

"Encostou" foi um eufemismo da Supervia, já que o impacto partiu ao meio o dormente que servia de amortecedor, como se pode ver na foto abaixo. Sem falar que 13 destes passageiros que "desembarcaram normalmente" foram levados pelos bombeiros para o Souza Aguiar com escoriaçoes leves, segundo informações da assessoria de comunicação do hospital.

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Já a segunda nota, mais realista e em papel timbrado da empresa, dizia:

Sobre o abalroamento ocorrido hoje pela manhã, a Supervia informa que os técnicos irão investigar as causas e quaisquer hipóteses nesse momento são especulações irresponsáveis.


A verdade disso tudo é que, sinceramente, temo por um acidente de grandes proporções, ainda maior do que aquele ocorrido em Austin, Nova Iguaçu, em 30 de agosto de 2007, onde 8 pessoas perderam a vida (tratarei desse infeliz incidente em breve). Tragédia mais que anunciada, onde a vítima, como sempre, é o povo pobre, usuário preferencial dos trens de subúrbio.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

URGENTE! Paralisação na Supervia!

Dois dias depois de ter publicado artigo sobre a concessionária Supervia, recebo a notícia pela imprensa de que os maquinistas da empresa podem cruzar os braços nos próximos dias. O Sindicato dos Ferroviários vai se reunir em assembléia nesta quarta-feira para decidir sobre a paralisação. Surpreendentemente, os maquinistas não estão reivindicando aumento de salário e sim melhores condições de trabalho.

Vou apurar tudo junto ao sindicato e manterei os leitores desse blog informados a respeito.

sábado, 4 de abril de 2009

Supervia

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Cartaz exposto nas estações da Supervia. O que exatamente a empresa tem medo de mostrar?

O internauta Thiago Chaves me escreve com uma pergunta pra lá de pertinente, tanto assim que resolvi transformar a resposta em artigo.

"Caro Latuff, estava eu pesquisando algumas informações sobre as ferrovias do Estado do Rio de Janeiro, e achei o seu blog. Achei muito bom o seu trabalho! Gostaria de saber qual seria a sua posição com relação a administração da Supervia relacionando com a antiga Central do Brasil, e se há alguma intenção de revitalizar (um projeto do governo) antigos trechos.

Grato desde já!"


Prezado Thiago,

Sua pergunta me deu a oportunidade de expor publicamente minha opinião a respeito da Supervia e demais concessionárias.

Com a vigência do regime neoliberal no Brasil, o governo entregou por intermédio das privatizações, transportes, energia e comunicações à sanha das corporações nacionais e estrangeiras. Nesse festim capitalista, coube ao Estado o papel de garçom. As agências reguladoras, que deveriam fiscalizar as empresas, são tão eficientes quanto um avião sem asas. Deixamos de ser cidadãos (se é que já fomos algum dia) e nos tornamos consumidores. Os planos de saúde e os hospitais particulares, não importando qual seja sua enfermidade, vão examinar primeiro o seu bolso. As faculdades particulares praticamente regularizaram o "pagou, passou". Passageiros de ônibus, especialmente das periferias, sofrem com a falta de coletivos, horários irregulares, e são mal atendidos por motoristas e cobradores, que por sua vez são submetidos a péssimas condições de trabalho (em várias linhas atualmente, o motorista cumpre também a função de cobrador). Os empresários de ônibus se organizaram em verdadeiras máfias, que defendem seus interesses seja através de lobbies ou mesmo na bala!

O caso da Supervia não difere muito de outras concessionárias de transporte ferroviário. Trata-se de um consórcio formado por empresários para disputar os leilões de privatização que lotearam as ferrovias brasileiras no final dos anos 90. Exceto por algumas mudanças cosméticas, o estado de conservação de composições, estações e linhas administradas pela Supervia não difere tanto dos tempos da Rede Ferroviária Federal S/A, especialmente os trechos de Saracuruna e Belford Roxo. As composições modernas vindas da Coréia do Sul foram compradas com recursos do BNDES e entregues a Supervia pelo governo do Estado, que também subsidia a energia elétrica da empresa. Carros de passageiros foram decorados externamente com anúncios publicitários, a Central do Brasil tem seus espaços alugados a qualquer um que possa pagar, e a passagem de trem hoje é mais cara que a de um ônibus urbano. A ordem portanto é lucrar, de todas as maneiras possíveis.

Penso que saúde, educação e transporte devam ser atribuições de Estado. A iniciativa privada tem como objetivo o lucro, e pra mim é inconcebível a idéia de faturar com as necessidades básicas de uma população. Assim, acredito que a importância destes serviços públicos é grande demais para repousar nas mãos de empresários gananciosos. É o Estado, através de nossos impostos, que tem o dever de prover estes serviços essenciais com competência e responsabilidade.

Obrigado, e continue a prestigiar esse blog.