A razão principal da paralisação de 24h dos trens da Central, que vai acontecer na madrugada de domingo para segunda-feira, não é por melhores salários e sim por melhores condições de trabalho. Acidentes tem sido frequentes, e dois deles inclusive pude acompanhar de perto.
No dia 25 de abril de 2008, uma composição vazia atingiu a lateral de um trem com passageiros que seguia para Japeri, a 500 metros da estação da Central do Brasil. A batida deixou pelo menos 8 feridos. Seguranças da Supervia tentaram (em vão) impedir que eu fizesse imagens no local. Assista ao vídeo que produzi na ocasião.
(Clique nas imagens para ampliar)
Já no dia 30 de agosto de 2007, no final de uma tarde nublada, assisti pela TV a notícia de um grave acidente envolvendo dois trens de passageiros no bairro de Austin, em Nova Iguaçu (RJ). Não pensei duas vezes, peguei um taxi (tive de desembolsar 150 reais nessa corrida) e parti para o local. Chegando lá, segui pela rua que dava acesso a via férrea, completamente tomada de ambulâncias, viaturas dos bombeiros e da polícia militar. Já era noite. O acesso à linha se dava por um buraco aberto no muro da ferrovia. A entrada era controlada por policiais, mas consegui driblar a vigilância, e alcancei os trilhos. De cara, me deparei de um dos carros, que de tão retorcido, parecia ter sido feito de papel alumínio.
(Clique nas imagens para ampliar)
Uma composição com mais ou menos 800 passageiros trafegava a 80 Km/h quando bateu num trem vazio que manobrava de ré num entroncamento. Neste acidente, mais de 100 pessoas ficaram feridas e 8 morreram. Eu ví os cadáveres, colocados lado a lado diante de um dos trens destruídos. Presenciei então uma cena que levarei para a sepultura comigo. Com a chegada do bispo de Nova Iguaçu, Dom Luciano Bergamin, bombeiros, paramédicos e policiais fizeram um círculo ao redor dos corpos, e de mãos dadas rezaram o Pai Nosso. Fiz diversas imagens desse momento, mas em respeito as vítimas, apaguei todas as fotos de minha câmera.
Eis seus nomes.
Érica da Silva, 25 anos
Heleno Paiva da Costa, 21 anos
Jerônimo Pereira dos Santos, 30 anos
Jessé da Silva Loroza, 70 anos
José Marcelino da Silva, 65 anos
Renan Pedrosa Moreira, 18 anos
Rosana Teófilo do Nascimento, 46 anos
Severino Inácio da Silva, 47 anos
No dia seguinte à tragédia, voltei pela manhã a Austin para registrar o trabalho de retirada das composições destroçadas. Fui impedido de chegar aos trilhos por PMs e seguranças da Supervia. No entanto, consegui fazer imagens do alto da lage de uma das residências próximas, inclusive colhendo depoimentos de moradores. Assista ao vídeo que produzi na ocasião.
(Clique na imagem para ampliar)
Com o passar dos dias, deu-se a conhecer pela imprensa detalhes das vidas interrompidas, como a de Érica da Silva, que voltava de Nova Iguaçu, onde fora comprar um nebulizador para seu filho Eric, de dois anos. Ou a do estudante Renan Pedrosa Moreira, que havia gravado seu primeiro CD e morreu dois dias antes de se apresentar com seu grupo de funk.
A estratégia da Supervia é sempre a mesma. Isenta-se de responsabilidade e culpabiliza os ferroviários. Mas o verdadeiro motivo por estes acidentes é a negligência da empresa para com a manutenção da malha ferroviária e das composições. Embarcar num trem está cada vez mais perigoso no Rio de Janeiro. A paralisação nesse domingo será, basicamente, pela preservação das vidas de ferroviários e passageiros.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário