Eu sou Carlos Latuff, cartunista e fã ferroviário. O propósito desta página é compartilhar com os internautas uma seleção das melhores imagens produzidas durante minhas expedições ferroviárias. Os registros aqui publicados podem ser reproduzidos pelos interessados, com tanto que para fins não-comerciais de informação, citando a fonte (por gentileza). Sou também colaborador do sítio www.estacoesferroviarias.com.br, de autoria do pesquisador Ralph Mennucci Giesbrecht, a página mais completa da Internet sobre estações ferroviárias brasileiras.

sábado, 27 de março de 2010

Estação ferroviária de Bocaina (SP)

Concluída a busca pelas ruínas da estação Taboca (veja aqui), eu, o professor Henrique Perazzi de Bauru, Renato Dias chefe do setor de cultura da Prefeitura de Bariri, Altivo Godoni, administrador da fazenda Santa Helena e João, o motorista, fomos parar em Bocaina, e lá conhecemos a estação ferroviária (atualmente abrigando a Casa do Artesão, como também um polo de serviços públicos).

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Aspecto atual da estação ferroviária de Bocaina.


Fotos e um antigo sino em exibição no interior da estação.


Aspecto da estação quando ainda em funcionamento, nos traços do artista Gumercindo Veronese, de Jaú, datado de 21 de setembro de 1978. A obra se encontra em precárias condições de conservação.

Conhecemos também Walmir Furlaneto, historiador e pesquisador do Museu Histórico Ruth Bueno Pontes Nigro. Walmir dispõe de vasto material iconográfico a respeito da ferrovia, parte dele gentilmente cedido para exibição neste blog. Encerro assim mais uma expedição pelo interior de São Paulo, com as fotos e um texto que Walmir me enviou contando a história da Estrada de Ferro do Dourado (ou "Douradense") em Bocaina.

Companhia de Estrada de Ferro Dourado "Douradense"

"O desenvolvimento da malha ferroviária do Estado de São Paulo, é obra de seus próprios habitantes, e a pequena ferrovia que tomou o nome de Estrada de Ferro Douradense, do vale principal ao rio encontrado em seu traçado, nasceu em expansão natural das lavouras de café e outros produtos, por zonas mais afastadas dos trilhos do grande tronco da Companhia Paulista.

A Dourandense começou a sua construção logo após a aprovação dos estudos definitivos da linha, o que ocorreu em 07 de agosto de 1899. Em outubro de 1900 foram abertos os primeiros 10 km(até Ferraz Sales) partindo de Ribeirão Bonito(estação final da CEPF, do ramal que se iniciava em São Carlos, em bitola métrica), em bitola de 0,60m e, em dezembro seguintes os outros 10 km até Dourado. O prolongamento desta linha prosseguiu e em maio de 1903, inaugurou-se o traçado até Boa Esperança do Sul. Em 20 de agosto de 1906 inaugurou-se o trecho de Boa Esperança do Sul a Ponte Alta com 17 quilômetros

Com alargamento da bitola para 1,00m, a linha primitiva, entre Ribeirão Bonito e Dourado foi suprimida por causa de seu traçado acidentado e a ligação para Dourado, onde haviam as grandes oficinas da estrada, ficou sendo via Trabiju, local que também teve a estação modificada de lugar quando do alargamento da bitola.

Em 1910 a ferrovia chega à Bocaina

Bocaina começou a ser servida pelo trem em 08 de junho de 1910, através da Companhia de Estrada de Ferro Douradense.

O dia 08 de junho de 1910 foi muito festivo para os bocainenses, inaugurava-se a estação da Companhia de Estrada de Ferro Dourado "Douradense". O primeiro trem a chegar veio de Bariri. Quando ele parou na gare ouviram-se prolongadas salvas de palmas, alaridos, a banda musical executou marchas e dobrados e espoucaram fogos e artifícios. Praticamente toda população estava presente cercando os membros da Primeira Câmara. O prefeito era Ulisses Corrêa, rodeado de Onofre Pacheco de Almeida Sampaio, Venâncio Garcia Simões, Alfredo Costa Cardoso, Dr. Emilio Casasco, além do padre Mariano Curia. A Douradense serviu Bocaina até 1949, quando foi encampada pela Companhia Paulista.

A implantação da ferrovia foi de muita importância para o desenvolvimento no município, principalmente no que concerne ao escoamento da produção cafeeira. Aqui existia um ramal que ligava Bariri a Trabiju. Eram dois horários da velha "Maria Fumaça", com o seu tradicional apito. De Bariri para Trabiju o trem passava em Bocaina às 7h30m. De Trabiju as pessoas podiam seguir para São Carlos, onde faziam baldeação para outro trem que as levaria para, Rio Claro, Campinas, Jundiaí e São Paulo.

A ferrovia dividia ao meio a Praça Zeca Livino e o bosque municipal. No horário da tarde, era grande o movimento de pessoas que aguardavam a chegada do trem, pois neles vinham as correspondências e os jornais do Correios, além dos filmes que eram exibidos no cinema. No trem, o passageiro também podia adquirir sua revista ou jornal, que eram vendidos pelo senhor José Lopes, mais conhecido por "Zé Revisteiro". Ele trazia um dos jornais que os esportistas esperavam com ansiedade, a "Gazeta Esportiva". José Lopes foi revisteiro do trem durante 31 anos.

Em 1949, a Cia. de Estrada de Ferro Dourado "Douradense", depois de 39 anos servindo Bocaina, foi encampada pela Companhia de Estrada de Ferro Paulista, S/A que permaneceu até 15 de setembro de 1966, quando o então governador Laudo Natel, determinou o fechamento das estações deficitárias.

O trem que saía de Bariri, passava pelas seguintes estações: Santa Eulália, Taboca, Posto Rangel, Izar, Bocaina, Pedro Alexandrino, Major Novaes, Trabiju, Sampaio Vidal e Ribeirão Bonito.

Em 1966 o último apito

Quantas saudades do horário das 16h30m, quando a "Maria Fumaça", apitava e vinha valentemente rodando pelos trilhos e fazia uma parada em Bocaina para baldeação de passageiros que seguiriam viagem rumo as estações do Izar, Posto Rangel, Taboca, Santa Eulália e finalmente Bariri, onde o trem repousava para recomeçar tudo novamente na manhã seguinte. De manhã, por volta das 7h30m, a rotina era a mesma e ele chegava a Bocaina, partindo rumo a Trabiju, onde existia gigantescos armazéns de café que pertencia ao extinto IBC (Instituto Brasileiro do Café).

Contam os mais antigos que ali se queimou muito café devido a crise mundial de 1929. De Trabiju os passageiros podiam seguir viagem até São Carlos, onde faziam baldeação em outro ramal que os levaria rumo a Rio Claro, Campinas, Jundiaí e São Paulo.

A ferrovia tinha em cada estação um responsável que era designado de "Chefe de Estação". Em Bocaina, Remigio Diegues, era quem respondia por essa função, na qual ele exerceu quase 50 anos. Ele morava em uma casa construída pela ferrovia a menos de 50 metros da estação.

Assim que partia de Bocaina, o trem percorria uns 4 km e depois de atravessar um pontilhão fazia seu abastecimento de água num reservatório conhecido por "caixa d’água".

A última locomotiva que passou por Bocaina, foi a número 730, no dia 15 de setembro de 1966 levando consigo todo material de escritório. Era o adeus da Maria Fumaça aos bocainenses depois de 56 anos."


(Clique nas imagens para ampliar)



Trem estacionado na estação de Bocaina, 1930.
Foto: B.Garcia
Acervo Walmir Furlaneto



Estação da Estrada de Ferro Dourado (ou "Douradense") em Bocaina, 1933.
Foto: B.Garcia
Acervo Walmir Furlaneto



Trem chegando na estação de Bocaina.
Foto: Museu Histórico de Bocaina "Ruth Bueno Pontes Nigro"



Armazéns da ferrovia
Acervo Walmir Furlaneto



Acidente da Douradense ocorrido no trecho Trabiju-Ribeirão Bonito.
Foto: Revista Brasileira de Ferreomodelismo
Acervo Walmir Furlaneto



Locomotiva 730 que vez a última viagem Bariri-Bocaina levando os materiais de escritório e outros pertences na desativação da ferrovia em 15 de setembro de 1966
Foto: José Baptista(ferroviária aposentado)
Acervo Walmir Furlaneto



Última foto dos funcionários na desativação da ferrovia em 15 de setembro de 1966 em Bocaina. Da esquerda para direita: Gabriel, Waldomiro, Lázaro, Remigio Diegues e José Baptista
Foto: José Baptista, ferroviário aposentado
Acervo Walmir Furlaneto



Maquinista da locomotiva 730 em Bocaina, durante a última viagem Bariri-Bocaina em 15 de setembro de 1966
Foto: José Baptista, ferroviário aposentado
Acervo Walmir Furlaneto

2 comentários:

paulo.desenhista@hotmail.com disse...

-Parabéns pela iniciativa deste site, meu pai era ferroviário do tempo antigo e eu cheguei a andar de trem Maria Fumaça quando era criança. Tenho muitas fotos de estações antigas no meu computador.
www.pauloabreudesenhista.blogspot.com

ArqVille disse...

Em que ano ano ocorreu o acidente no trecho Trabiju-Ribeirão Bonito?

Parabéns pela iniciativa da página, são vocês que relatam a história.